terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vidas


Foto : Egidio Santos
Vindimas Douro, Agosto 2009
Recebi esta semana um telefonema que me deixou babado. Uma mãe, portuguesa, a viver em Londres, que costuma seguir este blog com gosto, quis que fosse eu a fotografar o baptizado do seu filho(a). Nunca fotografei nenhum baptizado, e mesmo casamentos contam-se pelos dedos de uma mão. Mas fiquei com pena de não poder atender a este pedido. Foi feito por alguém que me escolheu pelo que vê nesta "casa". Que queria certamente algo um pouco diferente das banalidades que geralmente se fazem nestes casos.
Ao andar este fim-de-semana a fotografar as vindimas, cruzei-me com esta mulher. Grávida de vários meses, ia apanhando as uvas enquanto pela mão ia arrastando os outros dois filhos, com a ajuda do pai que também vindimava. Pensei em como o lugar e o meio em que vivemos nos condiciona a vida de forma quase definitiva, que isso do sonho americano é quase só para filmes e a realidade é dura.
Para a criança (de que não chegei a saber o nome) a ser baptizada este fim-de-semana, em Coimbra, desejo que aproveite a vida bem. Que seja feliz. E para aquelas crianças do Douro, que consigam romper, um pouco que seja, a miséria de vida que lhes está destinada.

7 comentários:

Sérgio Aires disse...

A pobreza não tem porque ser um destino... esse tem sido um dos grandes equívocos que legitima que a mesma se reproduza de geração para geração. Está nas nossas mãos fazer de tudo para alterar essa dramática injustiça. Excelente imagem e mensagem, inspiradora para todos os que não se conformam com tais "destinos".

Atenta disse...

Percebo as reflexões em torno da pobreza e da influência crucial do "onde nascemos" na nossa trajectória de vida, mas... neste caso concreto, porquê partir do princípio de que estas crianças terão uma "miséria de vida"? Cuidado com os simplismos, mesmo os aparentemente poéticos...
Parabéns, mais uma vez, pelas belíssimas fotos!!

patologista disse...

Atenta, quando falei em pobreza estava a referir-me apenas a questões materiais, embora, quando estas faltam muito, é dificil manter a harmonia familiar. Aliás, o que mais gostei na foto foi da ternura que naquele momento passava por aquela mãe, e isso é o mais importante. Mas que nascer numa familia pobre no interior desertificado, condiciona o nosso futuro, isso é uma realidade. O que se espera é que cada vez sejam mais os que rompem com essa situação. Mas mais do que por esforço daquelas crianças ou dos seus pais, as hipóteses de futuro delas passam por boas politicas de descentralização e igualdade social, o que muito tem faltado.
Como diz o Sérgia Aires, passa por todos nós (nem que seja com o voto) ajudar a mudar o País.

Luz Santos disse...

Não sei como vim parar ao seu Blogue e ainda bem cá aqui vim ter.
Estou encantada com as suas fotografias.
Parabéns pela sua arte e sensibilidade fotográfica.
Bom fim de semana
A Luz A Sombra

Ana disse...

Tenho a certeza de que se sairia lindamente no baptizado da minha filha. A Maria agradece babada a referencia e eu, de lagriminha no olho, tambem.
Ana

patologista disse...

Ana, (agora já sei o seu nome), nunca se sabe s um dia ainda nos cruzamos e até levo a máquina e fotografo a Maria. O mundo é tão fértil em surpresas.

Manuel Luis disse...

Uma excelente foto com um tema para reflectirmos.
convido-o a visitar o meu empobrecido blogue que é todo natural:

batidasfotograficas.blogspot.com